Poesia do cientista que era poeta e do poeta que era cientistaDavid MarianoA Biblioteca Municipal da Nazaré promoveu no passado dia 15 de Fevereiro, pelas 16 horas, uma sessão de declamação de poesia, por Ana Maria Dias, em homenagem ao poeta António Gedeão e ao cientista Rómulo de Carvalho (estamos a falar da mesma pessoa: Gedeão era o pseudónimo literário de Rómulo de Carvalho, um dos mais notáveis investigadores científicos portugueses) no mês em que se assinala o 12.º aniversário da sua morte.
A iniciativa, designada “Ciência e Poesia”, procurou desta forma evocar a memória do homem da ciência e do poeta, com um recital de poesia e referências à sua vasta obra que influenciou notavelmente áreas tão distintas como a música, a ciência e o ensino (quem não se lembra do famoso poema “A Pedra Filosofal” cantado por Manuel Freire: “eles não sabem que o sonho / é uma constante da vida…”). A actividade que contou com a participação de Ana Maria Dias e Máximo Ferreira, decorreu no auditório da Biblioteca Municipal da Nazaré.Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa, Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e marcando gerações inteiras (entre 1953 e 1975 publicou diversos manuais de ensino da Física, da Química e das Ciências da Natureza que foram várias vezes reeditados e utilizados durante vários anos nos ensinos liceal e complementar).Foi já perto da sua morte que Rómulo de Carvalho revelou que António Gedeão era afinal o seu pseudónimo literário, manifestado em 1956, com a obra “Movimento Perpétuo”, e prolongado com livros como “Teatro do Mundo” (1958), “Máquina de Fogo” (1961), “Poema para Galileu” (1964), “Linhas de Força” (1967) ou ainda “Poemas Póstumos”(1983) e “Novos Poemas Póstumos” (1990).Na sua poética, reunida em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Ele sabia que o sonho era uma constante da vida.
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