EU PESCADOR ME CONFESSOArmando LopesEsta é a história de Baltazar Nunes, pai biológico de uma menina chamada Esmeralda ou Ana Filipa, tanto faz. Por bem ou por mal, o Tribunal de Torres Novas decidiu agora entregar-lhe a sua guarda definitiva, cumprindo uma deliberação de 2004. Assim, aos sete anos de idade – que completa no próximo dia 12 de Fevereiro – esta menina viu destruírem-lhe o mundo que tinha construído desde os três meses. Por decisão judicial, trocaram-lhe a família, mudaram-lhe os afectos, romperam-lhe todos os elos de segurança e conforto que conquistara…

Justa ou injusta, a decisão da juíza Mariana Caetano alterou radicalmente a vida desta menina, sem ter em conta a salvaguarda dos seus interesses. Porque ignorou as recomendações da equipa de pedopsiquiatria que a acompanhava. Porque aplicou a Lei de forma prepotente, controversa e brutal. Porque, fundamentalmente, não lhe respeitou a opinião nem a vontade. E isto fez-nos lembrar o quanto era mais sensata a justiça salomónica. Sem códigos nem cartilhas, como desculpa ou álibi. Mas obedecendo a princípios sábios de humanidade e bom senso que a juíza de Torres Novas não teve.A este propósito lembrei-me do episódio em que a mãe verdadeira, na iminência de ver a sua filha cortada ao meio, preferiu abdicar dela em favor da falsa mãe para lhe salvar a vida. Esse foi um acto de amor que ajudou o rei Salomão a tomar a decisão certa.A Baltazar Nunes não se conhecem quaisquer actos de amor pela filha. Antes pelo contrário, para si esta menina tem sido, apenas e só, uma mina de ouro. Para si, para a sua família e para o seu advogado. Graças a ela e às indemnizações obtidas em tribunal, tem-lhes corrido bem a vida nos últimos tempos. Roupinha nova, casinha em construção, bons honorários… No entanto, Baltazar Nunes só reconheceu a paternidade tardiamente, quando alguém lhe mostrou o filão. E, mesmo assim, sempre de forma interesseira, oportunista e desonesta.É natural. Baltazar Nunes nunca gostou muito de trabalhar. Um trabalhito aqui e ali, esporadicamente, mal dava para a “bucha”. Muito menos para dar condições de vida decentes à família. Apesar disso, Baltazar não se contentava com a comida caseira. Gostava de variar, o malandro, e tinha lume no olho para as fêmeas. Foi assim que ele conheceu a mãe de Esmeralda, Aidida Porto. Quem ia adivinhar que Aidida ficava de barriga cheia e que fora ele quem lha enchera?…A farsa consumou-se agora e é chegada a hora da verdade. A juíza de Torres Novas decidiu atribuir a Baltazar a guarda definitiva de Esmeralda. Resta saber se prevalece o “amor paternal”, agora que secou a fonte de rendimento!