Acrobacia, dança música, vídeo e teatro em AlcobaçaDavid MarianoPodemos chamar-lhe um espectáculo multidisciplinar, onde mais uma vez várias linguagens artísticas se cruzam e onde a dança e as artes do circo, o vídeo e a música electrónica, o teatro e a acrobacia parecem viver em harmonia: é isto “Intérieur Nuit”, uma criação de Jean-Baptiste Adré (a sua primeira por sinal), concebida com a colaboração de Jacques Bertrand e Christophe Sechet e que irá subir ao palco do Cine-Teatro de Alcobaça no próximo dia 6 de Dezembro, pelas 21h 30.
Mais do que um simples espectáculo ou uma obra inovadora capaz de viver na fronteira de diferentes disciplinas artísticas, esta é aquilo a que se chama uma experiência que deve ser vivida como um momento de intimidade e de proximidade a serem partilhados pelo espectador. Mas afinal o que temos aqui? Um artista que utiliza movimentos corporais, a contorção, a coreografia e o vídeo para construir uma peça assente nos conceitos de equilíbrio e de espaço.É a partir desse momento que o público é levado a interrogar-se sobre a relação entre o tempo e o espaço, o interior e o exterior, o real e o imaginário. Jean-Baptiste André, pode-se dizer, conduz-nos a uma pesquisa do corpo e das suas metamorfoses: palhaço e acrobata, o artista leva ao extremo os limites do corpo, não pelas proezas que executa no palco, mas sobretudo pelas questões sugeridas pelos seus movimentos.Há uma pergunta que a peça também coloca: como representar a metamorfose? (E apostamos que a resposta será bem mais honesta que aquela que o mágico Luís de Matos nos deu em frente ao Mosteiro de Alcobaça num dia de Verão) É precisamente neste capítulo que entram a artes dos circo, nomeadamente o equilibrismo e o “clown”, a dança e o teatro. Se o vídeo abre uma quarta dimensão e age sobre a ilusão das perspectivas (a queda do abismo, grandes planos, jogos de sombras, imponderabilidade), o ângulo da imagem favorece a distorção do espaço e interfere no campo lógico das nossas percepções.Nota última para a presença da música electrónica: verdadeira matéria sonora que amplifica as diferentes respirações do espectáculo. Também o trabalho da luz cria “uma divisão para as aparições, agindo sobre a decomposição do espaço, trabalhando as sombras e os vazios e dando desta forma a conhecer-nos o volume da intimidade. Acrobacia, dança, música, vídeo, teatro: isto é “Intérieur Nuit”.
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