Editorial 132Eram milhares e enchiam o coração de Lisboa. Gritavam palavras de ordem. Não eram arruaceiros, nem estavam acostumados às manifestações, mas levantaram-se numa só voz.Nas mãos traziam bandeiras de luto carregado. Luto pela situação. Luto pelos sonhos de uma carreira que, um dia, foi reconhecida por todos e, agora, é enxovalhada, maltratada, comentada por todos, nas ruas, nos cafés, na praça pública.É curioso: ninguém diz ao médico como diagnosticar ou fazer a prescrição; ninguém que se sinta injustiçado diz ao advogado que procedimento há-de ter para conduzir o processo; ninguém diz ao engenheiro a quantidade de ferro que há-de levar uma casa, mas toda a gente neste país parece saber tudo sobre educação.
As políticas do governo PS em relação à educação têm provocado, desde o primeiro momento, a falta de respeito nacional pela profissão de professor. Questionar a sua avaliação, a sua progressão na carreira, ou o tempo que passa na escola, passou das parangonas dos jornais para os debates televisivos e entrou pelas casas de todos deixando um lastro de agressividade e de perseguição. Esqueceram-se todos de contabilizar as horas roubadas à família, as madrugadas em frente ao computador, ou aos testes dos meninos. Esqueceram-se os pais, esqueceram-se os meninos, esqueceu-se a ministra. Essa parte, ninguém conta. Assim como também ninguém conta que os mesmos meninos vêm cada vez mais mal formados de casa (que é a sua primeira escola!), porque educar é uma missão extremamente difícil e não há receitas, nem escolas para pais. E, com meninos cada vez mais problemáticos, o professor passou também a ser psicólogo, sociólogo, animador social, assistente social e mais um sem-número de outras profissões porque os meninos não têm só que ser salvos da ignorância, mas da falta de atenção, da falta de condições sócio-económicas, do álcool, da droga e de uma infinidade de flagelos sociais que perseguem alguns desde o berço.Talvez seja por isso que o papel do professor caiu no descrédito. Deixou de ter uma profissão para ter sete ofícios. E como se sete não fossem suficientes, exige a Sr.ª Ministra que os professores passem a avaliar os outros professores, afogando-se em papéis.As bandeiras negras têm escritas palavras claras: “Deixem-nos ensinar”. Quem sabe, talvez a Sr.ª Ministra precise que lhe recordem o verdadeiro significado das palavras. Para ser professor é essencial saber ler não só com os olhos, mas, sobretudo com o coração…
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