Alcobaça recebe concerto único em PortugalDavid MarianoQuem tocou com Miles Davis, Freddie Hubbard, Woody Shaw ou Art Blakey não pode ser um músico qualquer e um músico qualquer é definitivamente aquilo que Kenny Garrett não é (seja no universo da música em geral, seja no universo do jazz em particular). Considerado um dos saxofonistas mais conhecidos e talentosos do mundo, este músico norte-americano é conhecido ainda pela sua imensa energia e espontânea habilidade posta em cada composição, baseada nesse argumento tão enraizado na tradição do jazz: o improviso. No próximo sábado, dia 28 de Junho, pelas 22h, teremos então um concerto único de um músico único, com Kenny Garrett a aterrar no Grande Auditório do Cine-Teatro de Alcobaça, onde promete fazer aquilo que sempre fez pelo planeta inteiro: encher salas e extirpar as almas de todas as finas impurezas acumuladas.
Por essas e por outras é que Kenny Garret conseguiu acumular as críticas extraordinárias que o laudam como um dos grandes artistas do século actual e passado. Por essas e por outras é que foi capaz de ter criado o seu próprio universo musical através de uma incessante procura da originalidade nas suas criações. Mas Kenny Garrett não respira apenas música, pela razão simples que a música respira através dele aquilo que é uma das suas ulteriores funções: a espiritualidade. Para percebermos um pouco o ponto que este homem leva essa busca tão importante na sua carreira basta ver como se submergiu no fascínio pela estudo das religiões e principalmente pela forma como escolheu abraçar a cultura chinesa.Um exemplo: enfeitiçado desde há muito pela filosofia e pela sabedoria orientais durante três semanas resolveu viajar até à China e viver aí a cultura segundo as suas próprias leis (o que implicou aprender a língua, a música e as tradições locais). Nesse caminho, ou digamos, nessa peregrinação, Kenny Garret nunca pretendeu o domínio absoluto dos vários conhecimentos adquiridos, antes a experiência e a integração no seu campo artístico de diferentes linguagens de expressão e comunicação. Compreende-se porquê, para este músico a missão espiritual e artística sempre se confundiram no trânsito pessoal de um corpo que fez da viagem um claro espaço espiritual e uma via para a pacificação da alma.Mais do que isso, fez nascer daí um disco: “Beyond the Wall”, décimo primeiro trabalho de uma carreira com mais de duas décadas iniciada em 1984 com “Introducing Kenny Garrett” e o primeiro registo editado sob a chancela da Nonesuch Records. Quando Kenny Garrett tocar em Alcobaça as nove canções que compõem este novo trabalho de originais é uma boa parte dessas viagens e dos vários territórios que o saxofonista atravessou que teremos oportunidade de ouvir e experimentar. Sem categorias e sem fronteiras (conceito que o título do álbum não deixa de identificar: “para lá do muro”), a música torna-se aqui um cruzamento de identidades e terrenos.




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