O quarteto de cordas que um dia chegou à popEm 1987, Alexander Balanescu formava um quarteto de cordas, e enquanto procurava uma nova geração de compositores a quem pudesse recorrer e interpretar temas, colocou a si próprio uma muito séria e pertinente questão: “Porque razão haveremos de ficar restringidos à chamada música clássica?” Depois de 1987, os Balanescu Quartet (assim se intitulou este conjunto de artistas romenos) responderam à questão com uma série de versões da banda germânica Kraftwerk no álbum de 1992 “Possessed” (de repente a electrónica podia ter lugar no fechadinho mundo da música erudita e adquirir uma sonoridade “clássica”: os Kraftwerk que, para todos os efeitos, se tornaram já hoje, ironia das ironias, num verdadeiro “clássico”). Em 2008, e com mais de duas décadas de carreira no pêlo, os Balanescu Quartet sobem agora ao palco do Cine-Teatro de Alcobaça, no próximo dia 9 de Fevereiro, pelas 21h 30, para mostrar estas e outras canções.
Desde “Luminitza”, álbum lançado em 1994 que acabou por combinar os diversos elementos técnicos explorados nas versões dos Kraftwerk (muitas delas inesquecíveis: “Robot”, “Model” ou “Autobahn”) com a forte carga emocional da música tradicional romena (trabalho que ainda continha várias alusões à trágica herança histórica pós-comunista), este quarteto de cordas notabilizou-se pela energia e pelo dinamismo que habitualmente foi dispondo nas suas actuações. No currículo, encontram-se igualmente uma série de ligações e influências que resultaram de colaborações distintas com Michael Nyman, Gavin Bryars, David Byrne, Pet Shop Boys, Kate Bush ou Spiritualized – nomes que demonstram bem como os Balanescu Quartet sempre desejaram ter um pé bem fincado no universo da pop. Há uma força que explica isto: Alexander Balanescu, virtuoso violinista e o compositor responsável por todo o repertório da formação, conhecido por ser um apaixonado pela intercomunicação e fluidez entre diferentes estilos musicais (e o percurso dos Balanescu Quartet ilustra-o perfeitamente), cujo trabalho nunca deixou de reflectir o desejo de levar aos limites as possibilidades do grupo que lidera. Tal como ele diz (e nós acreditamos): “O quarteto de cordas não sofre alterações há cerca de 200 anos ou mais, mas o formato parece ser infinitamente flexível.” É isso que eles vão mostrar mais uma vez em Alcobaça.
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