João DelgadoSindicato Livre dos PescadoresNa última edição, o Região da Nazaré avançou com uma notícia que não corresponde ao que realmente aconteceu. Com certeza um equívoco, um lapso, deu origem a que se avançasse com a notícia de que estava criada uma nova associação de pescadores.O que sucedeu, na verdade, é que os cerca de 50 pescadores, presentes no plenário realizado no passado dia 17 de Novembro, avançaram com a proposta de criação de uma nova associação do sector, depois de consideradas várias queixas de mau funcionamento e de uma certa inércia das existentes. Desta forma, os elementos da mesa registaram estas preocupações e garantiram que tudo iria ser feito para a elaboração de novos estatutos ou para a reestruturação da única Associação de Armadores da Nazaré, salvaguardando, no entanto, outros cenários possíveis de serem estudados e, consequentemente, apresentados à apreciação dos pescadores em novo plenário a realizar para o efeito.
Os motivos que levaram a organização a avançar com este plenário prendem-se com o clima de descontentamento e de desolação que se vive no sector, motivado pela escalada impressionante do preço dos combustíveis, pela situação da Docapesca, pelas frequentes abordagens algo repressivas das autoridades. Abordagens incompreensíveis num estado democrático, na medida em que as autoridades deveriam se opor às ilegalidades com uma perspectiva formativa e de alteração gradual – e não brusca –, das condutas menos próprias, pautando assim a sua intervenção por valores que possam transparecer para o sector respeito e segurança e não o clima de ódio que hoje se verifica.Ainda nesta área da fiscalização, há que ter em conta a realidade do sector, nomeadamente a grave falta de mão-de-obra, pois o sector não atrai jovens, logo a questão dos reformados é um mal necessário para que se completem as tripulações. Se tal não acontecer, corre-se o risco de muitos activos perderem o seu posto de trabalho. E mais desemprego decerto que é o que não se pretende.Para além de ajudar a resolver estes problemas de fundo que assolam a pesca, pretende-se com tudo isto instalar uma dinâmica de discussão, reuniões periódicas, onde se apresentem os problemas e soluções para os mesmos, criar massa crítica no seio dos profissionais da pesca para que esta aos poucos se levante e se constitua como mais uma possibilidade séria de emprego. Assim sendo, pretende-se preparar os homens do mar para os novos desafios que se adivinham difíceis, pô-los ao corrente das mais recentes normas e directivas estatais e ao nível da união europeia para que ninguém seja apanhado de surpresa em relação ao seu sector produtivo.Em suma, queremos uma organização forte para que lentamente se abandonem não só hábitos ultrapassados, baseados na mera recolecção, para se passar à fase da gestão das capturas e dos mercados, à preservação do meio ambiente e à evolução sócio-cultural e económica dos profissionais de pesca.Sempre com o sentido de unir vontades, sempre com o intuito de eliminar o que não funciona, abrindo portas a novos projectos, desafios e perspectivas, pois considera-se que só organizados os pescadores poderão vencer esta injusta batalha imposta por quem persegue cegamente os lucros neste mercado capitalista, selvagem, sem regras e sem qualquer respeito pela vida humana.
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