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Eu Pescador me ConfessoArmando LopesColunistaQuando assumiu o cargo, a senhora ministra da Educação prometeu uma política de rigor e exigência. Promessa ao mesmo tempo vaga e ambiciosa. Vaga porque, não concretizando nada, permitia dar uma dimensão subjectiva às palavras. Ambiciosa porque, em face das distorções funcionais existentes, diagnosticava uma mudança demasiado radical. Em todo o […]

Eu Pescador me ConfessoArmando LopesColunistaQuando assumiu o cargo, a senhora ministra da Educação prometeu uma política de rigor e exigência. Promessa ao mesmo tempo vaga e ambiciosa. Vaga porque, não concretizando nada, permitia dar uma dimensão subjectiva às palavras. Ambiciosa porque, em face das distorções funcionais existentes, diagnosticava uma mudança demasiado radical. Em todo o caso, era unanimemente reconhecida a necessidade de implementação de novas políticas na Escola. Que estabelecessem diferentes regras de conduta. Que definissem, também, outro tipo de comportamentos. Permitindo corrigir as más práticas, alterar as más estratégias e obter melhores resultados.

Confesso-lhe, senhora ministra, que nunca criei grandes expectativas a esse respeito. Nem, tão pouco, esperei isso de si. Sei bem como é difícil, aos humanos, manterem-se imunes às tentações da carne. O que é o mesmo que dizer, como é difícil aos políticos manterem-se fiéis às promessas feitas. E, embora não acredite em milagres, reconheço que, a existirem, são sempre obra de algum santo ou de algum deus. Ora, com o devido respeito, o meu cepticismo não me permite incluí-la em nenhuma destas duas espécies.No entanto, acreditei que alguma coisa poderia e deveria ser feita. Tendo em atenção que, a Escola, não é um edifício. Que se pode encerrar ou inaugurar, beneficiar ou degradar, construir ou demolir. A Escola é um conjunto de pessoas de carne e osso: professores, alunos e funcionários. Com defeitos e virtudes, com hábitos e necessidades, com direitos e deveres… Por isso, senhora ministra, quando falou em rigor e exigência, eu acreditei que se estava a referir a todos por igual.Ingenuamente o fiz, devo agora reconhecê-lo. Porque verifico que, as suas políticas, deixam de fora aqueles que deveriam ser os seus alvos preferenciais. Favorecer os alunos, gazeteiros e cábulas, talvez melhore as estatísticas do insucesso escolar, talvez satisfaça as pretensões dos pais inconscientes, talvez seja até elogioso para os pedagogos do embuste. Mas não é, certamente, uma aposta na qualidade e na valorização do ensino público.A defesa do rigor e da exigência caem por água abaixo com a aplicação deste Estatuto do Aluno. Porque ele desvaloriza o dever de assiduidade como factor de avaliação. Porque ele combate o abandono escolar com a protecção dos faltosos. Porque ele desvirtua a Escola enquanto local de aprendizagem.Não sei se a sua elaboração obedeceu a critérios de algum génio ou de algum sábio. Não sei, sequer, se cedeu a pressões de alguma Associação de Pais progressista. Sei apenas que ele transfere para os professores o dever de educar e, ao fazê-lo, demite os pais das suas verdadeiras funções.Por isso, senhora ministra, já que estamos numa onda de transferência de competências, queria deixar-lhe aqui uma proposta. Uma proposta em que talvez ainda não tenha pensado e que é a seguinte:– E que tal existirem também, nas escolas, uns pais de acolhimento?!…

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