Carlos BonifácioVice Presidente da CMAAlcobaça é um dos concelhos mais castigados nos estudos de impacto ambiental sobre os traçados propostos para o TGV entre Lisboa e Porto.O período de discussão pública contou com a participação dos órgãos do poder local, mas especialmente com o empenho de muitos munícipes que nas várias sessões públicas compareceram em massa, manifestado o seu descontentamento perante as propostas apresentadas, que representam um rude golpe no futuro deste concelho.Findo o prazo contabilizaram-se mais de 4.000 exposições entregues na Agência Portuguesa do Ambiente, contra a intenção de atravessar o concelho com o TGV, este foi seguramente um dos processos que mais contou de forma activa com o envolvimento das populações.

A construção do TGV no concelho a verificar-se teria impactos altamente negativos e irremediáveis para o futuro, desde logo, porque a característica dominante do concelho é a dispersão das construções em termos de ocupação do solo.Tendo em conta todos os eixos propostos as consequências são gravíssimas na estrutura de ocupação do solo e nos aglomerados urbanos que atravessam, com especial predominância nas Freguesias de Benedita, Turquel, Évora, Prazeres de Aljubarrota e S. Vicente.A separação entre áreas residenciais, equipamentos e núcleos de actividades económicas, corresponderá a efeitos profundamente nefastos no crescimento natural das freguesias e do concelho.O atravessamento do TGV em Alcobaça criará inevitavelmente uma barreira entre as populações e amputará o concelho de uma parcela de 500 hectares que passará a ser “terra de ninguém”, sem possibilidade alguma de fruição.O impacto ao nível do ruído, implicará que as populações directamente afectadas pelo atravessamento destes comboios, terão que conviver com ruídos de deslocação de ar, perceptíveis até 150 metros a partir do local de passagem, com um ritmo de frequência de 64 comboios diários.Não se compreende porque razão a opção a Leste da Serra do Candeeiros ficou na gaveta e avançou a opção a Oeste, quando é óbvio que os impactos com esta opção para as populações são maiores, não se diga que foi por razões económicas, como se tem argumentado, porque aquando da construção da (A1), essa questão não foi equacionada.Talvez fosse mais desejável, se quer olhar apenas para os custos, avaliar a tempo e horas a rentabilidade económica do troço Lisboa/Porto. Alguns estudos apontam para um custo médio só na viagem entre Leiria e Lisboa de 45 Euros aos preços actuais. Pergunta-se, quantos portugueses podem despender desta verba? Não se terá a criar mais um “elefante branco” neste País? Nada tenho a opor a uma ligação de Lisboa/Madrid, questiono é porque terá Portugal de ter uma ligação interna com a nossa dimensão, quando a linha do Norte com os alfas pendulares estão longe de atingir a capacidade máxima? Alguns países desenvolvidos da Europa não adoptaram o TGV, porque perceberam que os benefícios para as populações eram incertos e não justificavam tamanho investimento.Depois da triste experiência que nos levou a construir 10 estádios desproporcionados para o tamanho do País, não se volte a cometer tamanho disparate de exigir uma factura tão alta às populações, para que os comboios não tenham qualquer rentabilidade económica.Haja bom senso…