1.º Festival de Dança de Alcobaça de 1 a 17 de NovembroDavid Mariano Há pouco mais de três anos a CeDeCe radicou-se em Alcobaça, uma década depois de ter sido fundada na cidade de Setúbal por Maria Bessa e António Rodrigues, assentando arraiais no renovado e adaptado espaço de um antigo celeiro situado nas costas do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Três anos depois, esta companhia de dança contemporânea traçou caminhos, concretizou uma agenda regular de espectáculos, educou públicos e familiarizou-se com a região que a acolheu. Três anos chegaram, portanto, para verificar que era a hora de arrancar com a ideia de um primeiro Festival de Dança de Alcobaça, intitulado Exchange Festival e que estreia amanhã no Cine-Teatro de Alcobaça, dia 1 de Novembro (com uma criação entre o Moscow Piano Quartet e a CeDeCe), decorrendo até 17 de Novembro no concelho (embora não só: Leiria, Caldas da Rainha, Santa Maria da Feira, Setúbal e Lisboa terão essa mesma oportunidade).
É como o nome diz (e aquilo que se traduz do inglês): troca. Troca de experiências. Entre artistas de várias áreas de expressão criativa. Entre o próprio público. E com os mais novos também. Maria Bessa, a face feminina da dupla que fundou e dirige artisticamente a companhia desde 1993, explica o que os levou a pegar nesta definição: “Sempre nos empenhamos em criar eventos que além de incluírem o nosso trabalho mostrassem em que aspecto a dança se cruza com outras artes como a pintura, a música ou o teatro. Em todas as formas de arte há sempre tendências diferentes; porque arte não é mecânica, é criatividade, é inovação implicitamente, e não existe arte sem estas duas. Sempre tivemos a tendência de fazer eventos em que se proporcionasse uma visão larga da dança e de outras artes através dela ou com ela.”Mais: “A própria CeDeCe é justamente baseada nesse princípio: o de haver a possibilidade de versatilidade no repertório e o de tentar incluir os dois aspectos fundamentais entre aqueles que já têm os seus caminhos traçados e a nova geração, proporcionando a convivência.” É por isto que vamos encontrar em cartaz a presença de companhias europeias (como o Ballet Nacional da Croácia) e portuguesas (caso da Companhia Nacional de Bailado, da Quórum Ballet ou da Academia de Dança Contemporânea de Setúbal), mas também a intervenção de grupos de música como o já referido Moscow Piano Quartet ou o Ad Lib Trio Acústico (consultar caixa de programação). Aí haverá espaço aberto para o improviso e para o desafio entre artistas de diversas áreas.O Exchange Festival nasce assim como um exemplo de multidisciplinariedade e é ainda o projecto de maior amplitude e ambição levado a cabo pela CeDeCe desde que chegou a Alcobaça. Porquê então só agora uma iniciativa deste tipo? “Porque sair de uma casa e de um sítio onde estávamos com tudo o que era estrutura, apoios, colaboradores, parceiros e público; em Setúbal trabalhámos durante 22 anos, primeiro havia que arrumar a casa, implementarmo-nos e chegar à região. Era preciso retomarmos o nosso trabalho, sistematizarmo-nos, arranjar novos colaboradores e chegar ao público.” Por outras palavras, criar raízes.Festival dos Pobres “Com todo o respeito pelos pobres”, previne Maria Bessa – ela que apelidou esta edição inaugural de Festival dos Pobres –, “o Exchange Festival quer igualmente constituir-se como um dos bons exemplos da necessária descentralização cultural do país.” Percebemos a ideia e percebemos o peso que pode significar para uma companhia como a CeDeCe ter de residir fora dos grandes centros urbanos ou dos pólos de decisão politica dentro da atribuição de apoios. A directora esclarece: “É importante as grandes estruturas viajarem para todo o país, mas também é importante que as estruturas sérias nas artes de espectáculo que existem em vários pontos do pais tenham condições para fazer o caminho inverso. Só quando houver diversos centros de excelência reconhecidos e com meios – e por excelência eu quero dizer de seriedade profissional nas artes de espectáculo – será possível dar a ver à capital o que é feito nesses sítios.” É neste ponto que Maria Bessa esclarece que a maioria dos convidados e intervenientes que participa neste festival o faz sem direito a cachets e uma vez mais graças à garantia do apoio dado pela Câmara Municipal de Alcobaça, ressalvando no entanto que o profissionalismo é mesmo “marca da casa” e que todas as condições logísticas e técnicas estão asseguradas. No capítulo das expectativas, Maria Bessa não esconde que cruza os dedos para conseguir toda a promoção e publicidade capaz de levar a informação do Exchange Festival ao maior número de pessoas. E que não se importa nada de ficar “estafadíssima”, desde que as plateias estejam cheias. E que no final não haja dívidas. Portugal inteiro sabe do que fala.
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