Este Portugal acidental que é natural mas cheira mal

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Armando LopesColunista.Para o proleta nacional, qualquer momento de euforia, qualquer perfumezinho de manifestação rasca ou loucura colectiva, mesmo que efémero, vale por dias sucessivos de angústia, privação e necessidade. Neste Portugal acidental e descartável, forrado de nevoeiro, mergulhado num universo fantástico de sonho e utopia, há “gente feliz com lágrimas” que espera por D. Sebastião, […]

Armando LopesColunista.Para o proleta nacional, qualquer momento de euforia, qualquer perfumezinho de manifestação rasca ou loucura colectiva, mesmo que efémero, vale por dias sucessivos de angústia, privação e necessidade. Neste Portugal acidental e descartável, forrado de nevoeiro, mergulhado num universo fantástico de sonho e utopia, há “gente feliz com lágrimas” que espera por D. Sebastião, quer ele venha ou não. E assim se vai vivendo, como quem morre um bocadinho todos os dias e não percebe ou não quer perceber.Aqui, neste lugar esquecido na ponta da Europa, a realidade quotidiana calçou umas sandálias de vento e afastou-se em direcção ao mar. Partiu, deixando ficar para trás a ingenuidade de uns e a esperteza saloia de outros. Mas, amanhã, regressará pontual, quando os primeiros raios de sol despontarem no horizonte.

Em Portugal, a economia desacelera e a recessão alastra. A taxa de crescimento do PIB é raquítica. O aumento das exportações regista uma quebra significativa. O investimento público e privado diminui a olhos vistos. A taxa de desemprego continua a disparar por aí acima. Os salários reais são cada vez mais baixos, apesar dos aumentos. O consumo das famílias desacelera. A dívida dos portugueses à banca ultrapassa, em média, o montante do salário anual. O poder de compra, a produtividade, a competitividade e a qualidade de vida definham. O nível de vida e as perspectivas de futuro decrescem. A criminalidade, a sinistralidade, a violência, as assimetrias e os factores de risco aumentam.No entanto, voltaram as bandeiras a tremular nas janelas, nos automóveis e em tudo quanto é sítio, visível e com exposição bastante. Os jornais, a rádio e a televisão trouxeram também o seu contributo, fundamental, para a alucinação colectiva. Dizem que é uma manifestação do orgulho nacional. Pode ser! Mas, orgulho de quê? Quando o rendimento médio das famílias portuguesas já foi ultrapassado pelo das regiões mais pobres de Espanha. Já foi ultrapassado pelo dos novos países da Comunidade Europeia, como a Eslovénia…A exploração da “pacovice” nacional, através dos incentivos ao consumo, já está aí. E explodiram as campanhas para vender mobiliário, electrodomésticos, cachecóis, camisolas e tudo o resto, a preços da uva mijona. Nalguns casos com promessas de reembolso total. Se Portugal for campeão do mundo, é claro! O que, hoje em dia, é uma certeza inquestionável.Os programas de viagens para a Alemanha estão, também, praticamente esgotados. Todo o bom patriota tem a obrigação de assistir a, pelo menos, um joguito ou dois do Mundial. Mas o Mundial é apenas o pretexto próximo. Já se passou o mesmo com as férias no Brasil ou noutros destinos longínquos. Esgotadas nas Agências de Viagens!Amanhã, haverá tempo para voltar à choradeira nacional. À merda de vida que às vezes até dá vómitos. Às reivindicações e às manifestações sindicais. Contra o aumento do custo de vida, os despedimentos e a degradação dos salários. Hoje, não! Portugal é quase campeão do mundo de futebol e, essa certeza é, nos tempos que correm, a única verdade que realmente importa…

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