A triologia

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Rui RasquilhoPresidente Fundador da ADEPAPrimeiro a pedra depois a luz, por fim a água. Esta é a trilogia do “edifício” cisterciense. Este é o legado de Bernardo de Claraval.Milhares de monges ergueram por toda a Europa, um conjunto impressionante de mosteiros, respeitando uma coerência arquitectónica nunca antes vista. Um só objectivo existiu nesta inimaginável construção: […]

Rui RasquilhoPresidente Fundador da ADEPAPrimeiro a pedra depois a luz, por fim a água. Esta é a trilogia do “edifício” cisterciense. Este é o legado de Bernardo de Claraval.Milhares de monges ergueram por toda a Europa, um conjunto impressionante de mosteiros, respeitando uma coerência arquitectónica nunca antes vista. Um só objectivo existiu nesta inimaginável construção: o progresso em Cristo.A arquitectura do espaço monástico cisterciense, sobretudo nos mosteiros criados de raiz, parece guardar as palavras de S. Bernardo no seu sermão para S. Miguel “Devemos falar a uma só voz sem que haja divisões entre nós: todos juntos, um só corpo em Cristo sendo membros uns dos outros.”

Fontenay (1147) é o mais antigo mosteiro da ordem que tal como Alcobaça (1178), chegou aos nossos dias praticamente intacto. O início da construção na Cote D’or, deste mosteiro, segundo filho de Claraval, tal como o nosso em Alcobaça data do segundo quartel do século XII. As suas três naves terminam num transepto curto e numa cabeceira quadrada. Em cada manhã o sol atravessa as onze janelas que rasgam a parede da cabeceira, inundando de luz as colunas da sua nave central.Em Alcobaça também o sol invade a Igreja pelas amplas janelas da charola gótica iluminando a pedra, oferecendo as colunas às abóbadas ao lageado do chão, reflexos mágicos. A pedra de Fontenay é mais rude, menos cinzelada do que em Santa Maria de Alcobaça. A nossa Igreja monástica é muito mais longa e eleva-se mais graciosamente ao céu do que Santa Maria de Fontenay. Mas a luz empenha-se em ambos os templos a aligeirar o gume da pedra em solicitar o serviço de Deus.S. Bernardo no seu XXVII Sermão, dedicado ao cântico dos cânticos afirma que a vida ressurge da morte tal e qual a luz ressurge da escuridão da noite. Esta afirmação do santo pode compreender-se em Alcobaça se nos dermos ao trabalho de acompanhar o sol na sua viagem da charola gótica à rosácea barroca da fachada. Os quadros de emoção da alva e do ocaso, fundem-se na violência luminosa do meio dia quando o astro despeja a sua luz pelas estreitas janelas da fachada virada a sul.O caminho da luz no cenário da pedra de cada Igreja e de cada Claustro, sobretudo nos que foram construídos, a Sul dos templos, como é o caso de Fontenay, é um inolvidável espectáculo, em particular se ocorrer no solestício do Verão.Em Fontenay o edifício das oficinas, forja e moinho, está ainda esplendoroso. Do nosso, restam dois arcos e uma vaga memória da água. Sem água para pouco serviam a pedra e a luz. Sem água não há higiene, não se cozinha, não se faz o pão, não se tratam os enfermos, não se rega a horta, não se ferram as montadas, não se dessedentam Homens e bestas, não se vive para Deus, sequer para os Homens.Em Fontenay a pedra, a luz e a água continuam a ser elementos da realidade, memória contínua servindo o turismo cultural e a plena compreensão do passado.Em Santa Maria de Alcobaça desviaram a água há anos. No Claustro dos Noviços há um leito seco, no jardim destruído do Lago do Obelisco onde D. Maria I repousou em Outubro de 1786, as gárgulas estão secas e delapidadas. É certo que o lago transborda mas a água vem de um furo. E não mais da Levada, único testemunho do sistema hidráulico cisterciense ainda a funcionar.Há água, muita água, desviada do mosteiro no açude da cerca ao lado da velha moagem no Lameirão, mantém-se a esperança do regresso da Levada com água a atravessar o Claustro do Cardeal, na Cozinha e na Fonte da Praça Afonso Henriques de quando em vez como uma réplica líquida fingida que vem dos rios.Não é necessário ser-se crente para entender a espiritualidade dos edifícios monásticos. Primeiro a pedra, depois a luz, por fim a água. Esta é a trilogia do “edifício” cisterciense, quase sempre rodeado de floresta. Mas uma verdade crua que nos cabe a todos, que a todos nos acusa, cada vez estamos menos capazes de conservar as heranças. De mansinho deixamos tudo desfazer-se, fornos de cal, moinhos, lagares de azeite e casas de apoio. Desprezamos a Arqueologia, fingimos muito como foi ocaso nas obras de requalificação da envolvente do mosteiro. Do lagar da lagoa, na Quinta da Granja, da residência do monge lagareiro na Ataíja, ao colmeal e cisternas pluviais da Quinta de Vale Ventos, resta o quê? E tudo isto tinha só pouco mais de duzentos anos. O que restará, quando perdermos a memória?Alcina Maria MatosPresidente do Rotary Club de AlcobaçaNum fio de pensamento e de reflexão levo-me até aos sinais dos tempos que reproduziram e continuam a reproduzir Homens Novos que nos trazem realidades incontornáveis. Nesse fio, volto ao tempo em que sobrevivia a ideia de que não haveria outra forma carregar determinados fardos excepto com entreajuda directa de homens e animais. Porém, incansável a ultrapassar todos os obstáculos, o Homem pensou e chegou até à roda – dizem, a maior invenção da história da humanidade – e que hoje integra o nosso quotidiano, sem se dar por isso, apesar de, provavelmente ao tempo, ter sido questionada a sua bondade, terem sido lançadas dúvidas sobre eventuais males que cada uma das possíveis aplicações viria a produzir no comportamento humano.Hoje, de novo, atravessamos uma época de adaptação e constante reajustamento ao que muitos entendem ser mais uma e imensa invenção da história da Humanidade. Falo de uma rede global que dá pelo nome de Internet, símbolo de uma acessibilidade global, de um instrumento de comunicação entre os povos, apesar das interrogações próprias que nos ocorrem a propósito do que este meio proporciona e que, a uma velocidade estonteante, não só nos transporta para os locais mais inóspitos e belos, mas também para as imagens e informações das mais exasperantes.Apesar de tudo o que poderia ser dito a respeito, não é dos receios que coabitam com o reconhecimento de uma perspectiva útil destas duas invenções, da bondade ou maldade destes dois enormes momentos e dos seus resultados que alteram e reescrevem, todos os dias, a história da nossa vivência enquanto seres humanos, o que me ocorre reflectir.Levo-me, antes, neste fio de pensamento, a uma outra realidade incontornável que combina o que de melhor, o que de mais humano, o que de menos virtual e o que de mais útil resulta quando se conjuga exemplarmente e em simultâneo, uma roda dentada em acção e uma rede de conhecimento e comunicação.Essa realidade existe, é centenária e dá pelo nome de ROTARY (www.rotary.org). Da articulação à roda de um único objectivo de uma bondade inegável – o de contribuir para a paz e compreensão mundial – têm resultado consequências proporcionadas por este movimento, de enorme grandeza, em torno de uma das maiores aspirações finais de sempre de um ser humano: viver bem consigo próprio, com os outros e ser feliz. E isso acontece, com certeza, sempre que pela acção desta rede de pessoas, se previne a fome, a doença, a guerra, o sofrimento e se dá mais educação e mais humanidade a outros seres humanos para que possam, também, sorrir e ser mais felizes.Assim, esta terá sido – não a maior invenção da nossa história recente – mas a maior descoberta do que, de mais humano, temos em cada um de nós. Tomar consciência de que, qualquer que seja o lugar no Mundo onde estejamos, é alcançável extrair o melhor do conceito que esteve na origem daquelas duas enormes invenções e colocá-lo ao serviço de um Homem mais desfavorecido. Criar consciência de que é necessário agir até ao dia em que esta roda e esta rede façam parte integrante do nosso universo e quotidiano colectivo, sem que se dê por isso.Nesse dia teremos uma nova Humanidade – eu acredito. Basta que, até esse dia, um e outro e mais outro se habitue, do mesmo modo que já se habituou a usar a roda ou a enviar um e-mail, a dar um pouco de si antes de pensar em si.

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