A Praia da Vitória, no concelho de Alcobaça foi um dos pontos de observação na saída de campoGeólogos nacionais e estrangeiros visitaram a Nazaré e a Praia da VitóriaInvestigadores viajaram a um passado com 92 milhões de anos e à extinção dos dinossáuriosMaria Laura Anastácio*No passado dia 6 de Novembro, a Praia da Vitória e a Praia de Norte na Nazaré foram pontos de paragem de uma saída de campo orientada pelo professor António Ribeiro, na consequência da homenagem a este geólogo, a qual na véspera, incluiu um conjunto de conferências apresentadas por cientistas nacionais e estrangeiros. A homenagem teve lugar no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa e foi promovida pela Sociedade Geológica de Portugal, em colaboração com o Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (LATTEX) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Na região da Nazaré e Alcobaça, António Ribeiro realizou inúmeras investigações, tendo estado recentemente a trabalhar nesta zona geográfica como orientador da tese de doutoramento de Fernando Monteiro – falecido recentemente e um especialista em meteoritos -, nomeadamente na grande descoberta do “ejecta” da Praia da Vitória. Este afloramento pode ser observado no extremo mais a sul desta praia, onde aflora uma formação do Cretácico Superior, rochas com cerca de 92 milhões de anos. Aqui, foram recentemente descobertos vestígios de fragmentos de uma rocha escura que foi identificado por estes geólogos como resultantes do impacto de grande um meteorito, que ao colidir com a superfície terrestre terá formado uma grande cratera de impacto, conhecida como a “Cratera de Thor”, e ejectado fragmentos pelas regiões periféricas. São estes fragmentados ejectados, de cor negra, que aparecem destacados em rochas calcárias de cor clara, na Praia da Vitória. De acordo com as últimas investigações, estes vestígios, conhecidos como o “ejecta”, terão sido provenientes deste impacto. A presença de uma anomalia de Irídio, uma elevada concentração deste elemento encontrado na transição do Cenomaniano-Turaniano, é prova de um mega impacto de um meteorito de grandes dimensões, que terá tido consequências tão gravosas que terão provocado uma série de acontecimentos que culminaram na extinção de uma grande número de espécies, incluindo a conhecida extinção dos dinossáurios, no final do Cretácico. O alinhamento do afloramento destes vestígios do “ejecta” na direcção da mega “Cratera de Thor”, e o facto de apresentarem uma estrutura microcristalina típica de condições de forte impacto, constituem, de acordo com António Ribeiro, argumentos que apoiam a teoria de que estes fragmentos, são provenientes do mega impacto meteorítico que vieram a provocar a extinção dos dinossáurios. Mas muitas outras são as estruturas geológicas que podem observar-se nas encostas norte e sul da Praia da Vitória e que são igualmente extremamente interessantes, nomeadamente um afloramento de gessos, onde é perfeitamente visível a plasticidade e a mobilidade destas formações gipsíferas.A norte da foz do rio que conflui na Praia da Vitória é possível observar-se uma formação arenítica bastante micácea, que se torna muito bonita, principalmente ao pôr-do-sol, uma vez que é extraordinariamente brilhante devido à elevada percentagem de moscovite que os arenitos possuem. A estrutura conhecido como a “Pedra do Leão” apresenta também características interessantes pela informação micropaleontológica e bioestratigráfica que nos fornece.Promontório é um geomonumentoO outro local de paragem na saída de campo, foi o Promontório da Nazaré e a Praia de Norte. Aqui, as estruturas de interesse são inúmeras desde um complexo filoniano com afloramentos de disjunção esferoidal de origem ígnea correlacionados com o Complexo Basáltico de Lisboa, passando pelos inúmeros tipos de fósseis e estruturas indicadoras de actividade biológica (icnofósseis), estruturas de colapso, indicadoras de actividade sísmica do passado, para além da estratificação entrecruzada e laminações, registo de paleocorrentes marinhas, é também visível deposição gravimétrica e formas geomorfológicas resultantes de meteorização química e física (por acção do mar, do vento, e de águas pluviais e de escorrência), também podemos ver aqui evidências de paleocarsificação, que nos dão informações de regressões e transgressões marinhas ao longos de vários episódios.O Promontório do Sítio da Nazaré é considerado por muitos geólogos nacionais, nomeadamente o Professor Galopim de Carvalho, como um autêntico geomonumento e um laboratório natural como há poucos no país. Esta grande estrutura constituída por uma alternância de calcários, calcários margosos e margas bastante fossilíferos que evidenciam a evolução paleogeográfica desta região durante o Cretácico médio e superior, reflecte os episódios relacionados com a abertura o Atlântico Norte e o afastamento dos continentes Americano e Euroasiático. *GeólogaCMN
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