Durante a noite das eleições muitas foram as mensagens que recebi com comentários, vatícinios ou cenários possíveis para as diversas Câmaras do País, consoante o lugar onde o emissor se encontrava. Vinham de pessoas diferentes, quase todas sem filiação ou militância conhecida mas atentas e interessadas na gestão das suas autarquias, e porque são minhas amigas, também na da minha.

Fomos trocando impressões silenciosas utilizando a moderna tecnologia dos telemóveis, mas os SMS não podem substituir o impacto de uma voz, e quando ao telefone quis eu saber de Lisboa, a resposta foi “A abada foi enourmous!” , ou seja, não havia já em Português nada que mostrasse este mecanismo de afectos eleitorais misturado com o pasmo que os resultados nos causam. Porque as autarquias são, por natureza, forças dinamizadoras e mobilizadoras dos vários agentes de desenvolvimento de um determinado espaço territorial, o Concelho, é este desígnio que as torna simultaneamente tão importantes e tão apetecidas, não admira que as eleições para os seus orgãos despertem paixões mesmo nos mais descrentes. No que à Nazaré diz respeito, e mais uma vez, a corrida autárquica foi pautada pelo morno e pelo vazio. Morno por se andar sempre a redor das questões que incomodam, sem realmente as trazer à praça pública para uma discussão cordata e séria. Vazio sobretudo de estratégia e de soluções. De uma maneira geral os candidatos não demonstraram um conhecimento suficientemente profundo dos problemas existentes; quer daqueles que estão esquecidos quer daqueles que têm sido mal solucionados ou que apenas são alvo de intervenções de cosmética, quer ainda dos que a Câmara cessante arranjou por sua conta e risco. Sublinhe-se assim a introdução de um novo discurso político da CDU, o progressivo apagamento do PS, a emergência de uma nova realidade plasmada na candidatura dos Independentes e do BE, o “ajiurnamento” cada vez maior do PSD na angariação de votos. Assim foi a campanha eleitoral, com balões e foguetes, festas e churrascadas, mas sem análise, sem contraditório. Na hora do voto o eleitorado não deixou o certo pelo duvidoso, e a liderança do município manteve-se nas mesmas mãos. Foi uma campanha sem vencidos mas também sem vencedores, porque o equilíbrio se alterou indiscutivelmente, fragilizando a maioria, que agora tem na oposição um verdadeiro “aneurisma” pronto a rebentar em qualquer momento. Todos certamente já pensámos o que aconteceria se houvesse uma coligação pós eleitoral entre as duas segundas listas mais votadas, e aguardamos mesmo que isso venha a acontecer em situações que reclamem uma chumbada valente. É que apraz sempre pensar que a eleição para cargos executivos não limita o Autarca na sua liberdade de expressão nem no seu direito de análise, e que neste ou em qualquer outro cenário o seu mandato exige que não ceda a uma acefalia mais ou menos remunerada que é epidemia mais vulgar nas autarquias do que a gripe das aves nos aviários.Isabel de CastroAdvogada