Por Aníbal Mota FreirePor proposta do Bloco de Esquerda, a Assembleia Municipal da Nazaré votou por maioria a escolha da data para o Feriado Municipal por meio de um referendo, em data a marcar. Por serem evidentes os factos, os deputados Independentes votaram contra a marcação do referendo. Entendemos também que esta acção é mais um fait diver para fazer esquecer os graves problemas económicos da Câmara Municipal, que vemos com grande apreensão, e votámos contra o orçamento de 2007 por ser irrealista, empolado e não ter metas para abater o défice.
Relembramos que as datas referidas foram o 3 de Setembro de 1898, dia da constituição do Concelho da Pederneira e 8 de Setembro, dia em que N.ª S.ª da Nazaré apareceu e salvou D. Fuas Roupinho. Os nossos antepassados, no início do Século passado, escolheram o dia 8 de Setembro como o mais representativo para o Concelho. Para esclarecer os leitores consultámos vários investigadores, que a seguir se citam.Num sintético enquadramento histórico, conclui-se que, além de Alcobaça, a Pederneira era a mais antiga e importante vila dos Coutos de Alcobaça. Os cronistas cistercienses dão-na como existente em 1190.Com o assoreamento do porto e da própria vila das Paredes, no final do Século XV, houve um êxodo populacional para a Pederneira. A Pederneira duplica a população, desenvolve a actividade da pesca e enriquece com a experiência e artes dos mareantes de Paredes, agora aqui radicados.Quanto ao Sítio onde, no início do século XII, terá ocorrido o Milagre de N.ª Sr.ª ao ilustre Alcaide de Porto de Mós e Almirante de D. Afonso Henriques, D. Fuas Roupinho e, desde então, houve maior afluência de romeiros ao Santuário do Sítio da Nazaré, provocando a transferência da população ligada às artes da pedra e madeira, que se fixa no Sítio, onde os trabalhos de arranjo e ampliação do Santuário exigem mão-de-obra de construção e tendeiros e vendedores para satisfazer a vinda do número de fieis.Inúmeros peregrinos visitam este lugar, entre eles figuras como D. Afonso Henriques, seu filho D. Sancho, D. Fernando, D. João II, Vasco da Gama, D. Manuel, demonstrando a grande importância do culto em épocas bem diferentes, mesmo entre o topo da hierarquia do Estado, como a Família Real.O fim do séc. XVIII testemunha uma movimentação completada no séc. XIX e primeira metade do séc. XX. Surge a Praia em franco desenvolvimento, frequentada por crescente número de famílias da Estremadura e Ribatejo que ali vão a banhos.A separação física, geográfica e psicológica da Pederneira, Sítio e Praia, desaparecem, e surge a necessidade de criar uma identidade colectiva que as funda num só núcleo social, político e administrativo. Tendo a Pederneira entrado em decadência, ao ponto de perder poder regional para locais como Alcobaça, via-se neste núcleo populacional a necessidade de recuperar esse poder, pela fusão dos 3 núcleos populacionais: Pederneira e o Sítio (local de grandes peregrinações que colocou as terras de N.ª Sr.ª da Nazaré em destaque, com relevante importância administrativa, pois as terras doadas por D. Fuas Roupinho a N.ª Sr.ª correspondem ao actual perímetro do Concelho), e a Praia (que com a pesca e turismo, consegue tornar-se o mais forte pólo económico e populacional). Contudo o que uniu a identidade destes 3 núcleos foi um fenómeno religioso que, além de ser muito visível na toponímia, é visível no culto, pilar cultural desta população.No trabalho de Mónica Maurício, na revista Nazaré Informa de Outubro 2005, concluímos que 3 de Setembro/1898 é o dia da constituição do Concelho da Pederneira. Embora no mesmo espaço geográfico, o concelho da Pederneira nada tem a ver com o concelho da Nazaré, nem as datas de constituição são as mesmas. Em 18 de Dezembro de 1912 (14 anos após) é constituído o Concelho da Nazaré, com todos os serviços e repartições instalados na Praia, pois não fazia sentido manter o Concelho na Pederneira. Curiosamente, ainda hoje se mantêm os nomes de Praia da Nazaré e Sítio da Nazaré, nomes dados pela presença da imagem da N.ª Sr.ª da Nazaré.Citando o investigador Pedro Penteado na sua crónica A Lenda de N.ª Sr.ª da Nazaré: em 8 de Setembro de 1182, num dia de névoa aconteceu o milagre… Esta sim, é a data histórica que deu o nome à Nazaré.Havendo referendo, se os nazarenos mudarem a actual data do Feriado Municipal, darão mais uma machadada numa das mais belas Lendas de Portugal.Assim, em coerência com a votação, considero que o Feriado não se deve alterar pelas mesmas razões alegadas pelo Bloco de Esquerda. A História não pode ser apagada e não compete aos homens reescrevê-la.(Deputados Independentes: Pesquisa de Aníbal Mota Freire e Orlando Jorge Rodrigues), Investigadores consultados:Pedro Penteado, Mónica Maurício, Manuel Brito Alão e José Almeida Salazar.
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