As 26 barracas do acampamento ilegal foram derrubas em cerca de 30 minutosCâmara de Alcobaça entregou habitações sociais a comunidade ciganaAlojadas as famílias no bairro da Bela Vista as barracas da Gafa foram abaixo em meia hora António Paulo/Liliana JoãoA demolição do bairro de barracas de madeira e zinco da comunidade cigana que durante mais de duas décadas viveu na Quinta da Gafa, teve lugar na tarde da passada quinta-feira, no mesmo dia em que a Câmara Municipal de Alcobaça (CMA) e o Instituto Nacional de Habitação (INH) entregaram, as chaves das habitações do Bairro Social da Bela Vista, em Alcobaça, onde foram realojadas 24 famílias ciganas. Os Portugal, os Cesteiros e os Lima, três das famílias que constituíam o grosso da maioria populacional do bairro clandestino, já não assistiram à sua demolição, uma vez que a essa hora desfrutavam dos primeiros momentos de vivência em habitações de pedra e cal.
Em cerca de meia hora as 26 barracas foram demolidas, perante o olhar atento de muitos alcobacenses que não quiseram perder o desaparecimento daquela “chaga social e urbanística”, nas palavras de Gonçalves Sapinho, presidente da autarquia. António José, foi um dos que acompanhou o derrube das barracas e referiu ao REGIÃO que “se a demolição não acontecesse no mesmo dia em que os ciganos se mudaram para as casas novas, amanhã já estavam aqui novos ciganos a habitar as barracas que tinham sido deixadas vagas”, sublinhando que isto deveria ter acontecido há muito tempo, mas a melhor maneira de o evitar seria, a autarquia nunca ter permitido a sua instalação”. “Revoltado” com o facto de o bairro de habitação social ser apenas destinado à etnia cigana, José não tem”dúvidas” de que “há pessoas muito mais pobres em Alcobaça, que precisam muito mais de uma casa que eles”.Fernando Almeida, um outro “espectador” da demolição, afirma que “os ciganos apenas têm as casas novas porque chantagearam a Câmara, dizendo que não saíam se não lhe arranjassem casas”. No entanto, Fernando Almeida “tira o chapéu” ao presidente da autarquia “pela sua persistência em querer resolver esta situação”. “Tardou mas realizou-se, e Gonçalves Sapinho conseguiu impor-se, cumprindo a palavra de tirar os ciganos desta entrada de Alcobaça, que dava um mau aspecto à cidade”.“Estou muito aliviada em saber que os ciganos vão estar um pouco mais longe da minha casa”, confessava, por seu lado, Tânia Silva, moradora na rua Luís de Camões, contígua ao antigo bairro de barracas. Esta alcobacense, que sempre conviveu com os vizinhos ciganos, explicou que “eles nunca se adaptaram à comunidade de Alcobaça, causando muitos problemas, fazendo mesmo alguns assaltos, um deles a mim, na altura, à mão armada”. Confessando “não acreditar” que alguma vez consigam integrar-se na sociedade, até porque “os ciganos têm a sua própria cultura”, Tânia Silva espera que “as novas casas possam ajudar a que deixem de viver precariamente, melhorando pelo menos, o aspecto da higiene”.O terreno agora limpo é propriedade da autarquia, mas em breve deverá ser transferido para a posse da Fundação Maria e Oliveira, no cumprimento de uma deliberação aprovada no anterior mandato autárquico que aponta para a cedência do espaço àquela instituição, como forma de pagamento pela CMA da compra na década de oitenta da Quinta da Conceição.Um dia de festa A cerimónia de entrega das chaves das novas casas foi presidida pelo secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, João Ferrão, tendo a seu lado, José Miguel Medeiros, governador civil de Leiria; Gonçalves Sapinho e Alcina Gonçalves, respectivamente, presidente e vereadora da Acção Social da CMA, e Ricardo Bexiga, administrador do INH.Na ocasião, Gonçalves Sapinho, presidente da autarquia, classificou o dia como de “festa” depois de “décadas em que os ciganos se instalaram em Alcobaça em condições indignas”. “Temos de ter orgulho na reabilitação das famílias de etnia cigana, que sempre foram tratados como elementos da sociedade civil e com toda a dignidade”, sublinhou o edil, acrescentando que “a autarquia sempre soube respeitar e reconhecer os elementos de etnia cigana na sociedade civil, que também têm deveres a cumprir para poderem ser aceites e integrados na sociedade”. “Tratem bem as casas que agora são vossas”, apelou o autarca, aproveitando o momento para esclarecer que “as famílias de etnia cigana vão pagar renda nas novas habitações, de acordo com os seus rendimentos”, acrescentando que “também pagam água, luz e gás”.Por seu lado, o secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, João Ferrão, salientou durante a sua intervenção “o empenho e a firmeza que a Câmara Municipal de Alcobaça colocou na resolução deste problema”, sublinhando que “uma sociedade desenvolvida e democrática acolhe todas as etnias” e que “a sociedade portuguesa se tornará mais rica se for mais diversa e aceitar outras origens”. O governante sublinhou ainda que a sua presença deveria ser entendida como “um sinal de que não há nenhuma razão para não acreditarmos que os moradores não vão estimar as suas novas casas”, considerando que “o bairro é uma comunidade que não precisa que ninguém ensine os seus moradores como o devem cuidar e estimar” pelo que “deve ser este bairro a dar o exemplo aos outros de como se deve viver em comunidade”.O novo bloco de Habitação Social é constituído por 24 fogos, corresponde a um investimento a um investimento de 1,091 milhões de euros por parte da CMA comparticipado em 50 por cento pelo INH, e o montante das rendas é estabelecido conforme a composição e os rendimentos de cada agregado familiar.
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