António Nabais Director do Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim MansoO museu não é apenas um espaço de recordações e de objectos raros ou exóticos, que poderá satisfazer a curiosidade ou os momentos de lazer. É, antes de mais, um espaço da cultura e história. O museu é o templo da cultura, onde se guardam patrimónios, memórias e saberes. A cultura é algo de sagrado, que é necessário preservar e dar continuidade de uma forma criativa. O museu é igualmente um laboratório, um serviço e um centro de recursos culturais. Portanto, uma instituição museológica necessita de espaços adequados às suas funções e à dignidade da obra cultural que o homem construiu e constrói. É neste caminho que seguimos ao pretendermos um novo edifício para o Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, com espaços que dignifiquem as colecções e que permitam o desenvolvimento das actividades essenciais através dos seguintes serviços: de direcção e coordenação, de administração, de investigação e de documentação, de incorporação e inventário, de conservação e restauro, de comunicação e organização de exposições, de educação, de marcketing, de edições e produtos comerciais, de assistência técnica e vigilância.
O programa museológico, o novo edifício, projecto do Arqto. Siza Vieira, e o percurso expositivo marcam a museologia contemporânea. O espaço arquitectónico está em função da natureza, das dimensões, da forma, das texturas e características de cada objecto e/ou colecção. Neste museu, a dialéctica no que respeita à exposição dos objectos desenrola-se em três níveis diferentes: o objecto a apresentar, o suporte e o espaço. Procurou-se o sistema de estudo de objecto a objecto ou de objectos do mesmo ofício, e de sala a sala, pensando numa fácil e didáctica compreensão do percurso expositivo.O museu é o lugar de encontro de culturas, de ontem e de hoje. É um espaço de inspiração e criação. O contacto directo com a cultura material recolhida, estudada e conservada nos museus permite ao cidadão ir mais longe nos diferentes domínios do saber para dar resposta às novas necessidades e, ao mesmo tempo, dar continuidade à herança patrimonial.Enfim, pretendemos uma museologia que crie espaços de encontro e de descoberta. Na verdade, “a cultura é a memória dos povos, a consciência colectiva e a continuidade histórica, o modo de pensar e de viver” (Milan Kundera). Cada vez se sente mais a necessidade de conhecer as realidades culturais que nos cercam e que materializam o resultado de muitas e variadas intervenções humanas, no passado, mesmo que longínquo, e no presente que caminha em direcção a um futuro que se pretende vir a servir melhor os cidadãos.Apresenta-se aqui a cultura como um elemento estrutural do desenvolvimento humano, porque aos museus cabe uma grande responsabilidade neste processo de valorização e reforço da diversidade cultural, ao entender que «a cultura é o património material e simbólico das sociedades, grupos sociais e individuais e cada um destes tem um património cultural singular a partir do qual surge a sua identidade» (Carta de S. Paulo, Julho de 2004). Ao definir o museu como espaço de cultura e história, pretendemos que se aproxime das populações e que envolva os cidadãos, reflectindo os seus anseios e preocupações. Teremos, deste modo, um templo de história: museu misto, transversal e pluridisciplinar. É, portanto, um museu que representa a cultura regional, preservando identidades e memórias, de modo a contribuir para a diversidade cultural. De facto, o museu é sustentáculo, âncora da nossa comunidade que pode promover um novo turismo: aquele que aposta no lazer e na cultura. Por outro lado, o museu representa a cultura como factor de criatividade e produtividade de uma região. O museu aparece assim como modelo estratégico para o desenvolvimento sustentado. Por outro lado, é necessário promover a coexistência de macro-museus e de micro-museus, funcionando em sintonia, em complementaridade e em rede. Devem-se, porém, olhar para as instituições museológicas como uma componente de desenvolvimento, sobretudo, num país como Portugal que necessita de grandes saltos qualitativos nos domínios da formação e do conhecimento, para sair de um atraso em relação aos outros países da Europa, para não continuarmos a ser os eternos últimos em tudo o que é fundamental para o bem estar e qualidade de vida dos cidadãos.Antes de mais os museus devem ser encarados como instrumentos de educação, centros de recursos culturais com múltiplas valências dirigidas para o desenvolvimento cultural, social e económico. Não são apenas um locais para visitar; são igualmente um centro de investigação, de descoberta, de criatividade e de produção. Não se podem reduzir a locais de peregrinação, com mais ou menos atracção, conforme as modas. A expansão das funções do museu deve-se a várias circunstâncias que levaram a sociedade contemporânea a novas exigências e a olhar para o património cultural de maneira diferente: a defesa ou reforço das identidades locais e regionais, a valorização “in situ” do património cultural, o turismo e o desenvolvimento da ciência museológica.
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