Reconstituição da visita de D. Maria I e da família real a Alcobaça, em 1786Reconstituição da visita de D. Maria I ao Mosteiro de AlcobaçaEntusiasmante. Vibrante. Apaixonante. Estes são apenas três de entre muitos adjectivos para classificar uma iniciativa que veio confirmar que a História pode ser revivida de modo atractivoAntónio PauloO Mosteiro de Alcobaça fervilhou de vida e de história, com a reconstituição no passado domingo da visita da rainha D. Maria I e da família real a Alcobaça, ocorrida em Outubro de 1786, nove anos depois de ter sido aclamada. À época uma comitiva de cerca de 500 pessoas permaneceu cinco dias instalada na Ala Norte, provocando uma grande agitação na pequena urbe, sobretudo habitada por cerca de três centenas de monges.
A reconstituição foi levada a efeito por 8 figurantes, entre os quais o próprio director do Mosteiro, Rui Rasquilho, que encarnou o secretário de Estado da corte, equivalente actualmente ao cargo de primeiro-ministro. Perante cerca de duas centenas de “homens e mulheres do povo”, Rui Rasquilho que não contava com “tanto povo”, foi conduzindo a família real pelo monumento Património Mundial, a qual integrava, para além de D. Maria I, o seu filho e príncipe herdeiro D. José também cognominado príncipe das Beiras e do Brasil e sua mulher, D. Maria Francisca, o príncipe D. João e sua mulher Carlota Joaquina, de apenas 11 anos. Com o Secretário do reino, Rui Rasquilho, a servir cícerone ao povo que se apresentou à porta do Mosteiro para cumprimentar suas altezas, estas entraram no Mosteiro ao som atroador dos órgãos, seguindo depois pela nave central, Sacristia Manuelina, Capela do Desterro, antigas cozinhas e Jardim do Obelisco. Durante a estadia da família real no Mosteiro, D. Maria I teve oportunidade de visitar a fábrica dos lenços estampados em tecidos de algodão – dirigida por uma jovem mestra de vinte anos – e deslocou-se ainda à fábrica de veludos e branquearia. Por ali relatou uma deslocação até à Marinha Grande – que demorou cerca de duas horas – e que levou D. Maria I à Real Fábrica do Vidro, dirigida pelos irmãos Stephens, afim de “confirmar” se as suas directrizes dadas nove anos antes estavam a ser cumpridas, quando assumiu o trono por morte de D. José e com o Marquês de Pombal a cair em “desgraça”. E segundo o Secretário Rui Rasquilho, a monarca regressou “maravilhada”, porque ali foi encontrar uma unidade industrial de ponta, cujos empresários ingleses numa vertente social, criaram casas para os operários, escolas de teatro e bailado e instituíram um sistema de assistência na saúde aos seus trabalhadores. “Realidades decorrentes de os empresários se chamarem Stephens e não Silvas…”, deixaria escapar o Secretário real. A “revisitação real” a “um espaço que acompanha Portugal desde a fundação da nacionalidade” e pelo qual “passaram todos os reis portugueses, e dos quais D. Maria I, foi o último monarca a visitá-lo ao tempo da permanência da Ordem de Cister”, foi evocada pormenorizadamente pelo Secretário Rui Rasquilho, e acompanhada interessadamente pelo povo. A visita terminou na Sala do Capítulo, onde Rui Rasquilho concluiu a “viagem no tempo” e o contratenor Luís Peças – que personificou o príncipe D. José – encerrou a sessão com a interpretação de uma pequena ária, que a família real e o povo saudaram com uma entusiasmada salva de palmas. Já na passada segunda-feira, cerca de 170 convivas reuniram-se em torno da família real, para um repasto que decorreu no Refeitório Medieval e que contou com a presença de um grande número de nobres e cortesãos em meio de grande animação e com uma conferência a cargo do Secretário Rui Rasquilho, subordinada à visita de “D. Maria a Alcobaça, Fragmentos de um Reinado”.
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