Rui Rasquilho quer “colocar o Mosteiro ao serviço do concelho, da região e do País”Rui Rasquilho dá conta de projectos para o Mosteiro de Alcobaça O actual director do Mosteiro de Alcobaça, Rui Rasquilho, quer partilhar as suas decisões com o poder local e com a sociedade civilAntónio Paulo Há seis meses no cargo de director do Mosteiro de Alcobaça, Rui Rasquilho, recebeu em Dezembro naquele monumento Património Mundial, a direcção do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) liderada por Elísio Summavielle, à qual mostrou ao longo de um dia inteiro de trabalho a realidade daquele espaço – com um total de um pouco mais de seis hectares de área coberta dos quais menos de metade estão aproveitados -, e deu conta dos projectos que ali pretende desenvolver nos próximos três anos. Detentor de um vasto currículo enquanto gestor cultural, Rui Rasquilho deixa clara a sua determinação em fazer obra, ao afirmar que “não vim para aqui para assinar ofícios”. “ Não sou como há quem pretenda nenhum D. Sebastião, mas a verdade é que conheço muito bem este Mosteiro, sendo certo que tenho uma vida feita na cultura e no património, que fui responsável pelo Instituto Camões no Brasil e pelos Serviços Culturais de Portugal em Marrocos durante vinte anos. Organizei e coordenei inúmeras em vários países. O que eu estou a colocar ao serviço de Alcobaça é o meu know how. Não é falsa modéstia, é o enunciar do meu percurso”, sublinha.
Quer “colocar o Mosteiro ao serviço do concelho, da região e do País, sempre em diálogo intenso com o poder local e com a sociedade civil”. O Mosteiro é uma peça importante para o desenvolvimento de Alcobaça é uma cidade dentro da cidade e convém que todos estejam conhecedores do projecto. Será muito importante que apareçam de fora do Mosteiro outras ideias sobre o que fazer”, salienta Rui Rasquilho. Só em diálogo sério há possibilidades de preparar o futuro a médio e longo prazo para a cidade cisterciense Intervenções já começaram Nesta altura o Mosteiro está a ser alvo de algumas obras de manutenção e de adaptação a novos serviços que se prolongarão pelos próximos dois anos. “Estamos a fazer intervenções nas Alas Sul e Norte” concretiza Rui Rasquilho, adiantando que “na Ala Sul, onde está instalada a galeria de exposições temporárias de S. Bernardo e onde desejo apresentar exposições temáticas de grande qualidade, estamos a instalar no antigo jardim romântico rampas para acesso de pessoas portadoras de deficiência e uma escadaria nas traseiras”. Na Ala Norte, o director do Mosteiro indica as intervenções a decorrerem “na zona da hospedaria, construída no século XVI e que foi palácio abacial mandado construir pelo Cardeal D. Henrique, um local onde terá brincado em pequeno D. Sebastião acrescenta, e no Claustro da Hospedaria de desenho clássico, impropriamente designado como Claustro D. Afonso VI, cuja cobertura será forrada com madeira com era na origem”. Sobre o Claustro da Portaria “incorrectamente” designado por Claustro da Cadeia, Rui Rasquilho adianta uma intervenção ao nível das janelas do primeiro andar e da pavimentação do chão “para servir de circulação entre a loja do IPPAR, a ser instalada na antiga sala das Finanças – Sala dos Actos antes da conclusão do Mosteiro – e a zona da cafetaria a ser criada na área da actual recepção”. Sobre a loja do IPPAR prevê-se que a grande sala onde funcionou o tribunal possa ser um auditório vocacionado para a realização de colóquios e conferências. Alcobaça, Batalha e TomarEstas alterações vão permitir o acesso dos visitantes pela Sala dos Reis, de onde será retirada a actual bilheteira, que passará para entrada da igreja. Após a aquisição do ingresso, os visitantes poderão admirar a Sala dos Reis, liberta do balcão e efectuar depois o percurso medieval e sair pelo Claustro da Portaria, onde será criada a cafetaria. Estes dois espaços, cafetaria e loja, estarão abertas ao exterior, com acesso pelo Rossio através da porta da antiga repartição de Finanças, e Rui Rasquilho garante que “na loja e na cafetaria não haverá conflitualidade com o comércio local: na loja só serão vendidos produtos do IPPAR e na cafetaria – cuja concessão desejo muito que venha a ser adjudicada pela Associação Comercial – seriam vendidos os doces e licores conventuais , que os comerciantes já comercializam nos seus estabelecimentos”. A criação de novas casas de banho e de uma copa, são outras obras a iniciarem-se em breve para melhor comodidade dos visitantes e para apoio logístico a eventos que venham a ocorrer no Mosteiro. De acordo com Rui Rasquilho todas estas intervenções “têm como finalidade criar mais e melhores condições, para que entre os Mosteiros de Alcobaça, Batalha e Convento de Cristo em Tomar, seja criado um verdadeiro circuito cultural que proporcione benefícios às localidades que os possuem, e mesmo a outras que sendo vizinhas, possuem outros produtos turísticos para oferecer aos visitantes”. Uma estratégia que Rui Rasquilho e os seus homólogos do Mosteiro da Batalha e do Convento de Cristo querem dinamizar “em conjunto com as Regiões de Turismo de Leiria/Fátima e dos Templários em termos de promoção junto dos operadores na origem dos principais fluxos turísticos que procuram os muitos e variados atractivos destas regiões”. “Também podem ser oferecidos circuitos dentro dos próprios Coutos de Alcobaça: Mosteiro da Batalha-Mosteiro de Alcobaça-Pelourinhos Manuelinos ou antiga Casa do Monge Lagareiro da Ataíja-Nazaré-Igreja de S. Gião-S. Martinho do Porto, juntando tudo isto em circuitos locais que só poderão ser feitos com um operador ligado a um grande hotel e aos outros hotéis mais pequenos que existem”, sugere Rui Rasquilho.Mosteiro com hotel de luxo E nesta estratégia encaixa um outro ambicioso objectivo de Rui Rasquilho: propõe que mediante concessão, seja instalado em parte dos edifícios onde funcionava o antigo Lar Residencial, um espaço com cerca de 4 hectares de área coberta, uma unidade hoteleira de cinco estrelas. “Os edifícios que rodeiam os Claustros do Cardeal e do Rachadouro são lindos por dentro e por fora, estão em bom estado de conservação estrutural, exceptuando o da Biblioteca que necessita de cuidados na cobertura, e o que se pretende é que numa conjugação entre estatal e privado se devolva àquele espaço, as funções que ele teve na sua origem: dormitório e lugar de repouso dos monges”, adianta Rui Rasquilho. “Este é um projecto que exigirá o maior cuidado na forma como se fará a intervenção no espaço que envolve o Claustro do Rachadouro construído entre os séculos XVIII e XIX e naturalmente também no claustro mais antigo, o do Cardeal” frisa Rui Rasquilho, adiantando que “só prevejo o hotel nalguns pisos do Claustro do Rachadouro, para que o restante venha a albergar por exemplo, o Instituto de Estudos Medievais, o centro de formação que recuperará o exercício das profissões que tenham sido praticadas no Mosteiro aos longo dos seus 800 anos numa perspectiva de modernidade. Imprescindível será também a criação do Museu Europeu da Ordem de Cister, esse pensado a partir das dependências medievais, um auditório e outros equipamentos que se considerem necessários. Mas este projecto implicará um enorme investimento e não será qualquer grupo que o poderá desenvolver”, sublinha Rui Rasquilho, adiantando já ter recebido “alguns sinais de interesse por parte de alguns grupos nacionais”. “Quem pegar no hotel terá ser um verdadeiro mecenas que, no fundo, aproveitará a Lei do Mecenato, para apoiar os projectos enunciados”, adverte.Realista sobre o desenvolvimento dos seus projectos, Rui Rasquilho salienta que “não estamos a falar para amanhã, nem sequer estou a falar para o meu tempo de gestão deste Mosteiro que terá de encaminhar-se para a autosustentabilidade. Eu ficarei muito satisfeito se conseguir concluir as obras na Ala Norte nos próximos três anos e ficarei muito contente se tiver lançado a segunda parte deste projecto bonito de forma irreversível quando daqui sair”, conclui Rui Rasquilho.
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